Do chamado ao envio

Quem envia? Quem são os enviados? Qual o canal do envio?

 

Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem á de ir por nós? ” (Isaías 6:8).

 

Dentro da doutrina de missões, especificamente quando se estuda sobre a doutrina do envio de missionário, somos confrontados com três perguntas essenciais:

  • Quem envia?
  • Quem são os enviados?
  • Qual é o canal do envio?

Se você ou sua Igreja souber responder essas três indagações temos um bom indicativo de que você, e sua Igreja, tem um coração missionário.

Ao procurar responder “quem envia” você descobrirá que é o mesmo que “faz o chamado“. Sim, antes do “envio” temos o “chamado“, em ambas etapas é o Senhor da Seara que atende ao clamor dos que pedem por “trabalhadores“. Ele atende aos que oram por compaixão para todos que andam perdidos como se não tivessem um pastor (Mt 9:36-38).

Precisamos entender todo esse processo que envolve a obra missionária dentro de uma perspectiva bíblica. Mesmo que o homem tenha desenvolvidos técnicas de capacitação humana e de administração eclesiástica, Deus não abre mão de sua soberania no que diz respeito a administração de seu reino e de sua seara (At 13:1-5).


 

 
Você foi chamado? Então se prepare para ser enviado!

 

Quem sou eu para ir;… Deus lhe respondeu: Eu serei contigo;…” (Êxodo 3:11-12).

 

Para a primeira pergunta: Quem envia? A resposta bíblica é uma só: Deus. A resposta está embasada em vários textos que comprovam que Ele é o autor tanto do chamado quanto do envio: Êx 3:10; Is 6:8; Jr 1:7; Mt 10:16, 28:19; Jo 20:21; At 13:2-4. Vejamos o texto que narra o “chamado” e o “envio” de Moisés.

A primeira coisa que precisamos entender neste texto é que a instrução e treinamento vieram antes do serviço. Como filho da filha de Faraó, Moisés recebeu a melhor educação que havia no Egito, tornando-se um jovem eloquente e de ação vigorosa: “poderoso em palavras e obras” (At 7:20-22).

Não há dúvida que quanto mais instrução e treinamento recebermos, melhor serviremos no Reino. Na história de Moisés vemos que ele ainda não havia recebido o “chamado” para ser o “libertador de Israel” embora tivesse sido “treinado” no que diz respeito ao conhecimento humano. Quem sabe não foi este conhecimento humano que lhe deu confiança para usar sua capacidade e força, e tentar se impor como um libertador. Seu próprio povo o rejeitou como tal e as circunstâncias e resultados de sua atitude o fez fugir para o deserto (Êx 2:11-15; At 7:23-28).

Ao ser rejeitado como libertador de seu povo, Moisés fugiu para a terra de Midiã, onde se estabeleceu como peregrino (Êx 3:1; At 7:29). A arrogância de Moisés lhe rendeu a fuga para o deserto, mas foi no deserto que o confiante e impulsivo Moisés aprendeu a humildade. E foi também no deserto que Moisés recebeu o seu “chamado” e aprendeu a ter fé (Êx 3:10; Atos 7:35-36).

 

A humana incapacidade de Moisés

 

Quando chamado, Moisés se desculpou porque se sentia incapaz para a tarefa que Deus lhe determinou. Era natural que ele se sentisse assim, na verdade, ele por si só não era mesmo capaz. Ele já tinha tentado fazer aquilo, ou seja, libertar Israel da escravidão, usando sua capacidade e força, mas tudo deu errado (Êx 3:10-11; At 7:25-28). 

Moisés Apresentou quatro objeções para ser enviado:

  • Primeiro falou de sua inadequação pessoal (Êx 3:11);
  • Segundo, disse que não tinha autoridade porque não conhecia a Deus (Êx 3:13);
  • Terceiro, sabia que seu povo não acreditaria acerca de sua comissão, ou seja, que Deus o tinha enviado (Êx 4:1); e,
  • Quarto, disse que lhe faltava eloquência para falar em nome de Deus (Êx 4:10).

Contudo, quando Deus chama e envia, Ele capacita. Para cada uma das dificuldades que Moisés apresentou, Deus deu uma palavra de afirmação.

Moisés realmente não era ninguém diante de faraó, mas Deus disse: “Eu serei contigo” (Êx 3:12). Para o povo, Deus mandou ele dizer que: “o EU SOU me enviou” (Êx 3:14-16). Para a desconfiança do povo, Deus disse que os sinais seriam sua credencial de enviado (Êx 4:2-9) e, para a falta de eloquência de Moisés, Deus disse: “serei a tua boca e te ensinaria o que falar” (Êx 4:12).

O projeto era de Deus, e não de Moisés. Moisés seria apenas um instrumento. Naturalmente, suas habilidades naturais e seu conhecimento seriam usados dentro de um plano, mas “o plano seria o de Deus” (Jó 42:2). Esse é o segredo universal dos homens verdadeiramente grandes: eles são capacitados mediante a presença e o poder de Deus em suas vidas.

Além disso, Deus não disse para Moisés trabalhar sozinho, Deus já havia preparado seu irmão Arão (Êx 4:14-17) e Ele mesmo, Deus, seria com ele. Deus disse a Moisés: “Eu serei contigo!” (Êx 3:12).

Lembre-se disso: se Deus verdadeiramente te comissionou para um chamado específico, como ser um missionário, um pastor, um evangelista,… Ele será contigo!


 

O chamado e o envio são atos soberanos de Deus

 

Ó SENHOR, meu Deus, eu não sei como falar, pois sou muito jovem.” (Jeremias 1:6 – NTLH).

 

Aqueles que são chamados por Deus reconhecem, com sinceridade, que não são as pessoas mais indicadas para cumprir a missão, pois são confrontados com as suas deficiências, dúvidas, temores etc. Como vimos acima, no caso do próprio Moisés que, quando chamado e enviado, apresentou quatro objeções ao seu envio:

  • inadequação pessoal (Êx 3:11);
  • falta de autoridade (Êx 3:13);
  • falta de credibilidade (Êx 4:1); e,
  • falta de eloquência para falar (Êx 4:10).

Mas, vimos também que para cada uma das dificuldades apresentadas por Moisés, Deus deu sua Palavra de afirmação (Êx 3:12,14-16; 4:2-9,12).

Além de Moisés, outros chamados e enviados, agiram da mesma forma. Gideão afirmou que a sua família era a mais pobre e ele o menor da casa do seu pai (Jz 6:15). Jeremias achava que não sabia falar, porque era um menino (Jr 1:6). E Pedro alegou que era um pecador (Lc 5:8).

Sim, esses homens de Deus citados acima não se acharam dignos da obra que o Senhor os chamou para realizar em Seu Nome. Apesar de toda sua formação (At 7:22), Moisés disse que não era a pessoa indicada para a missão (Êx 3;11; 4:10).

Gideão, por sua vez, alegou que, por sua família ser pobre, não teria recursos financeiros e, por ser o mais novo de sua casa, não seria respeitado como um líder em Israel (Jz 6:11-24).

No caso de Jeremias, quando respondeu ao chamado de Deus, afirmou que “não sabia falar” porque era “uma criança” (Jr 1:4-10). Jeremias quis dizer que era muito jovem e, portanto, inexperiente para ser o porta-voz de Deus para o mundo.

Já Simão Pedro, atônito diante do poder de Jesus, cuja divindade ficou evidente pelo poder demonstrado na pesca milagrosa, percebeu que era pecador, e sentiu-se indigno de estar ao lado de Jesus (Lc 5:1-10).

Diante do chamado de Deus, um escolhido pode agir com desconfiança de si mesmo. Pode sentir que não têm a habilidade, capacidade nem experiência adequada ou recursos necessários.

Mas, nunca devemos permitir que nossos sentimentos de insuficiência nos impeçam de obedecer ao chamado de Deus. Ele sempre estará conosco. Se Deus nos chama para um trabalho específico, Ele vai capacitar e suprir todas as necessidades (Sl 138:8; Rm 8:28; Fp 1:6; 2:13).

 

A solução de Deus para a incapacidade dos vocacionados

 

Para Moisés, como vimos anteriormente, Deus deu Palavras de afirmação (Êx 3:12,14-16; 4:2-9,12). Para o medo e desesperança de Gideão, Deus disse: “Já que eu estou contigo” (Jz 6:16). Diante da insegurança de Jeremias, que disse que não sabia falar por ser inexperiente, o Senhor afirmou: “Não temas, eu sou contigo para te livrar,… ponho na tua boca as minhas palavras” (Jr 1:7-9).

E, para Simão Pedro que reconheceu ser um pecador e declarou que era indigno de estar ao lado de Jesus (Lc 5:8), o Senhor não o “despede” como um pecador que não pode ser salvo, mas o “admite“, com sua benignidade e clemência. O Senhor não só lhe atribui uma nova vocação, como o chamou de uma forma direta para servi-lo: “Não temas, doravante serás pescador de homens” (Lc 5:10). Essa afirmação tem ainda mais significado dentro do contexto da “pesca” milagrosa (Lc 5:4-9), afinal, somente em Cristo temos a capacidade de “pescar homens”.

Diante do chamado de Deus, tome cuidado para não deixar a falta de autoestima sobrepujar ao chamado. Não apresente suas desculpas ou declare suas limitações e debilidades com empecilhos para o envio. Será que Deus não sabe tudo a respeito de quem Ele chama? Será que Ele comete engano quando chama alguém? Que suas declarações sejam frutos do temor e da humildade vindos de um coração sincero (Nm 12:3; Sl 138:6; Tg 4:6).

Grande parte das pessoas escolhidas por Deus ao longo da história do Plano da Salvação, desde a chamada de Abraão, seria rejeitada por nós, e muitos homens rejeitados por Ele seriam os nossos escolhidos. Isto porque Deus não vê como nós vemos, pois, o homem olha para a aparência, a capacidade humana, aquilo que está diante dos olhos, “porém o Senhor olha para o coração” (1 Sm 16:7).


 

O chamado antecede ao envio

 

 Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações.” (Jeremias 1:5).

 

Deus tem um propósito para cada cristão, qualquer que seja o trabalho que você faça, deve fazê-lo para a glória de Deus (1 Co 10:31; Cl 3:23). Segundo C. H. Spurgeon:

“… todo cristão capaz de disseminar o evangelho tem direito de fazê-lo. Ainda mais, não só tem direito, mas é seu dever fazê-lo enquanto viver. A propagação do evangelho foi entregue, não a uns poucos, mas a todos os discípulos do Senhor Jesus Cristo” (Mt 28:18-22; Lc 24:44-49; 2 Co 5:18-20; 1 Pe 2:9).

Contudo, ao longo da história, Deus, por sua soberana sabedoria, designa a alguns para um tipo de trabalho específico. Sim, alguns são escolhidos por Deus para um trabalho especial e específico, para exercerem papéis importantes em sua geração, comunidade e, outros ainda, na história da humanidade.

Como foi com Moisés (Êx 3:1-10), Sansão (Jz 13:3-5), Davi (1 Sm 16:1,12-13), Jeremias (Jr 1:5), João o Batista (Lc 1:13-17) e Paulo (Gl 1:15-16), dentre outros, tanto os bíblicos quanto outros mais presentes nos séculos de história da Igreja de Cristo.

Cada discípulo, ou cristão, segundo a medida da graça a ele confiada pelo Espírito Santo, tem a obrigação de ministrar em seu tempo e geração, à Igreja e entre os incrédulos. Mas, entre estes há alguns poucos ainda sendo chamados a entregar-se totalmente à proclamação do evangelho. Não devemos imaginar que a “vocação“, isto é, o chamamento especial de alguns seja simples ilusão, e que ainda hoje ninguém mais é separado para uma obra peculiar (Ef 4:11-14).

De fato, um “embaixador” precisa ser “comissionado“, isto é, nomeado e enviado pelo “governo que representa” para se ter credibilidade diante das nações na qual representará seu “Reino” (2 Co 5:20; Ef 6:20). Mais do que nunca, os vocacionados de nossos dias precisam tanto estar seguros da veracidade da sua posição e de sua vocação, assim como os profetas e grandes líderes das Escrituras estavam da sua (Is 6:8; Jr 1:5).

Deus conheceu e consagrou Jeremias antes que ele nascesse, e nós não sabemos como foi sua vida antes do chamado e envio (Jr 1:5-10). Já antes de seu chamado e envio, Saulo (Paulo) de Tarso viveu sem o conhecimento de Jesus, sendo um religioso fervoroso, defensor de sua fé, perseguidor de cristãos (At 8:1; 9:1-2; 22:3-21; Fp 3:4-6). Mas, aprouve a Deus tê-lo escolhido “desde o ventre da sua mãe” para salvar os gentios (Gl 1:15).

Por isso, não é correto afirmar que Paulo se “converteu” e depois foi escolhido para ser enviado. Os textos retro citados que falam de sua chamada demonstram que houve uma revelação, eleição, vocação e envio. Com nítida semelhança a vocação profética de Jeremias, ambos eleitos desde o “ventre materno”.

Paulo fala de sua “vocação” como o engajamento da vida para um serviço específico: fundador determinante de igrejas entre os gentios (At 9:15; Rm 15:18-19; Gl 1:16-17).

Sim, todo aquele que é enviado precisa ter plena convicção de seu chamado. Precisa ter a certeza que sua “vocação” (chamado) e “envio” (comissão) não é vinda de convicções meramente humanas, por aprovação das pessoas e nem para agradar as pessoas.

Nós oramos para que nosso DEUS levante “vocacionados” e os “comissione” para essa nossa geração alcançar os não-alcançados. Que estes “chamados”  para ser “enviados” digam em bom e auto tom, com o Apóstolo dos gentios, que o seu ministério: “não é da parte dos homens, nem por homem algum, mas recebido do Senhor” (Gl. 1:1).

Que as igrejas reconheçam aqueles que entre elas foram “chamados“, e sob oração e orientação do Espírito Santo, os “enviem” para cumprirem suas vocações sob as ordens do Rei Jesus!


Início