“Disse também o Senhor a Moisés: ´Diga aos israelitas: Quando vocês atravessarem o Jordão e entrarem em Canaã, escolham algumas cidades para serem suas cidades de refúgio…”
(Números 35: 9-11)
O mundo (as nações) nunca quis ouvir a Deus. A despeito disso, Ele jamais deixou de falar-lhe.
Já ao tempo em que Sua Lei era vista com maus olhos, e os homens em sua hipócrita justiça acusavam a Lei de ser cruel e inclemente, Ele havia pensado nos que haveriam de necessitar de refúgio, vagando na terra como fugitivos em busca de socorro e acolhimento. Ao prover um torrão para o Seu povo, determinou que esse povo delimitasse cidades preparadas para abrigar os que a ela se refugiassem, atormentados por suas vicissitudes. Houvesse o mundo lido e crido, teria espaço para os desesperados, em busca de acolhimento contra a opressão e a miséria.
Um dia a nação dos filhos de Israel, viu-se vagando no mundo, desesperada na pessoa de muitos de seus filhos em busca de refúgio entre outras nações. Faz pouco tempo isso, dentro de uma história ultramilenar, setenta anos passados, apenas.
Nessa mesma ocasião, e por vias semelhantes, quantos filhos de outras nações correram mundo, vagaram em busca de refúgio! Quantos dos filhos da Alemanha, da Itália, da Espanha, da Polônia entre outros, ansiaram por achar cidades de refúgio entre outras nações! Encontraram entre nações como Brasil, Estados Unidos, Canadá e outras, espaço para onde trouxeram seus filhos da pobreza, cujas novas gerações conseguiram prosperar. Bom número deles alcançou patamar de riqueza temporal. Hoje lemos entre os nomes nativos, os nomes “diferentes” de seus filhos e netos.
Atingidos todos os corações sensíveis pela chocante imagem da criança que em busca de refúgio entre nações “refugiou-se” nas águas do mar da morte, neste verdadeiro setembro negro para tantas famílias que buscam cidades de refúgio, talvez não se dêem conta tais corações, que cidades de refúgio precisam existir a partir de corações que sirvam de refúgio, na composição de tais cidades. Quando governantes não têm coração de refúgio, não são mais que a expressão última de um povo vazio do mesmo coração, que os elegeu para representar sua frieza covarde, cruel e ingrata.
Todos os corações precisam servir de refúgio. Não apenas porque no passado buscaram refúgio e o encontraram em outras cidades, mas porque há futuro, há uma história que corre vigiada pelo Senhor da história, que enviou Seu Filho para ser neste tempo da História a cidade de refúgio para todo aquele que a Ele se achega, náufrago nas águas de seu desespero pessoal.
Todas as nações precisam de refúgio porque a história de todos não pára num presente de prosperidade, bem-estar e festa. Há um futuro nem sempre distante para o qual necessário se faz construir mais que fundos de euros e dólares; mas fundos de misericórdia que possam ser achados no dia da necessidade. A Cidade de Refúgio dos Céus, encarnada na Pessoa do Cristo de Deus alertou: “Bem aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia”. Se corações humanos não podem se miserabilizar a favor de outros corações cujo desatino grita sem palavras: “Ajudem-me a escapar por minha vida; pela vida dos meus filhos!”, como poderão esperar achar misericórdia no dia em que Deus vier a julgar as nações, conforme prometeu em Sua Palavra?
A imagem que calca fundo nossa retina da alma, da criança atirada à praia porque o mar lhe deu o refúgio que a terra dos outros negou à sua família, deve servir para refletirmos noutros tantos refugiados que naufragam ao redor de nossa existência bem sucedida. Especialmente quando a maré da crise instalada pelo tempo da calamidade forma os vagalhões que engolem os menos afortunados, que não sabem nadar, nem conseguem por esforço próprio manter-se “na crista da onda”.
Devemos chorar a morte da pequena criança, sim. Mas também chorar a morte da sensibilidade de um mundo que se diz cristão, para vergonha do Cristo do cristianismo. Não cerremos fileira com eles, Igreja, pois a indiferença cobra seu próprio preço na contabilidade de Deus.
Pr. Cleber Alho